Please play this song on the radio
Eu não lembro como as pessoas faziam antigamente pra escutar música boa. Isso porque quando eu realmente comecei a levar música a sério, a troca de músicas pela internet ainda era algo como uma novidade, e o Napster apenas começava a ser visto como uma ameaça. Pouco antes disso, a indústria fonográfica encrencava com os sites de Midi com os mesmos argumentos com os quais demonizam o formato mp3 hoje em dia.Se a memória não falha - e se falhar, não tem problema, porque isso já é parte do meu folclore pessoal - a primeira música que eu baixei pela internet foi uma do Legião Urbana que meu irmão queria tirar no violão. Lembro que demorou uma eternidade [mas o que não demorava uma eternidade numa conexão discada?], mas quando chegou foi aquele espanto. "Então daqui a pouco ninguém mais vai querer comprar CD".
Ainda tenho até hoje o primeiro CD de mp3 que eu fiz na vida. Levei meu precioso HD na casa do único amigo que tinha gravador de CD. Já naquela época eu tinha a mania de categorizar tudo, então todas as músicas estavam separadas por pastas como "Noisy", "Alternative", "Punk Rock"... Uma tonelada de lados B do Radiohead convivendo com coisas hoje inaudíveis como Anthrax. E tinha também o Catatonia, da *insira aqui muitos coraçõezinhos* Cerys Matthews, que era tudo o que eu queria pra mim, na época. O que foi, eu era apenas um garoto, tá?
Mesmo assim, não faz muito tempo, eu ainda comprava CDs originais, em parte porque não gastava meu dinheiro com mais nada de útil. Claro, ainda não resisto a uma promoção nem a uma boa loja de CDs usados, mas via de regra, me recuso a pagar 35 dinheiros em uma coisa que eu posso conseguir por... vejamos... zero dinheiros na internet mais próxima. Aquela história de não pagar por algo que custa muito mais do que vale. Ainda mais achando que o CD de música está com os dias contados mesmo.
Confesso: eu consumo mais música do que consigo desfrutar. Ou melhor, baixo mais música do que eu consigo ouvir. Síndrome dos novos tempos: conexão de internet ultraveloz + muita coisa disponível na net + mp3 players cada vez mais acessíveis. E, lógico, o fato de poder encontrar coisas na net que eu não encontraria numa Lojas Americanas nem nos meus mais desvairados sonhos. Discografia do Johnny Cash? O novo do Mars Volta? Richard Cheese nem pensar, né? E o meu arquivo de músicas vai crescendo e crescendo, esperando o dia em que eu vou ter tempo de fruir cada kbyte com a merecida atenção.
E.
2 Comments:
Adorei! Eu quero ouvir Mars Volta, tá?? E cuidado, li na Rolling Stone que tem uns brasileiros (os primeiros, diga-se) sendo processados por causa dessa história de baixar coisas e os direitos autorais e bla bla bla. Não sei no que vai dar, mas...
Ao ler seu texto, um verso de uma música interpretada pela saudosa - pelo menos pra mim - Elis Regina, me veio à mente: "... nós ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Pois é, estou sentindo o peso da idade chegando pra mim, e a medida que se aproxima a casa dos temidos 30 anos - confesso minha idade sim, não vejo motivo pra me aterrorizar com isso - penso que estou ficando, cada vez mais nostalgica, igualzinha a meus pais, e como nunca poderia me deslumbrar nos ternos 20 anos. Por que nostalgica? Porque não consigo imaginar uma realidade onde não existam mais livros pois estes foram substituidos por texto do word, onde as pessoas não escrevam mais cartas pois só se comunicam por e-mail, onde não existam mais cd porque foram substituidos por mp3. Parece loucura, mais até hoje, quando quero apreciar o som dos Beatles, eu não vou até o computador mais próximo, aliás, eu sequer procuro um aparelho de reprodução de cd. Prefiro pegar um LP - sim, o bom e velho bolachão - e colocar pra tocar Sgt. Pepper´s original de 1967. E penso que é uma pena que nem todos possam ter o mesmo privilegio que eu. Enquanto o ouço, a magia, tão bem escondida no chiado tão característico dos LP´s, surge... e eu, parafraseando Cecília Meireles, me sinto completamente feliz!
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