23 dezembro 2006

With or Without ou por que eu admiro pessoas que já viram o U2 ao vivo


No livro 31 Canções (que eu gentilmente ganhei de Natal do Du) o Nick Hornby escreve sobre a música que ele mais ouviu ao longo de 25 anos, e tenta descobrir por que Thunder Road, do Bruce Springsteen tem esse efeito “magnético” sobre ele. Ele parte de uma constatação, embasada na paixão pessoal e no fato de já ter escutado, por alto, umas 1500 vezes essa música, e tenta descobrir por que determinadas músicas nos atraem mais do que outras.

A minha Thunder Road é With or Without You, do U2. Todo mundo sabe isso, e quem não sabe eu aviso. Não acontece de eu associar a nenhum evento, pessoa ou ano escolar (“ah, isso é muito oitava série”, etc...). Não, é uma música que eu já ouvi tantas vezes que essas associações espaço-temporais não cabem mais na minha relação com esta canção (essa idéia é de Hornby, assim como usar a palavra canção no lugar de música...). Eu lembro de, uma vez, estar no Opinião, dançando na pista quando começaram os primeiros acordes inconfundíveis de With or Without You. Bem nessa hora, que é, para mim, de uma apreciação sagrada, um feioso (coitado!) pediu pra ficar comigo. A hora é muito sagrada para ficar com alguém! Uma vez, voltando de uma festa, no táxi, começou a tocar a “minha música”. O taxista aumentou só pra eu poder apreciá-la, olhando a cidade deserta da madrugada passar por mim, linda e em paz.

Muitas outras músicas foram motivos de paixão por minha parte. Wonderwall, os Beatles inteiros, Cat Stevens, Manu Chao, Elefant, White Stripes, mas eles não têm o appeal que With or Without tem. Alguns chegam perto. Alguns eu já ouvi over and over again. Já pus no repeat, para não precisar parar pra a música voltar. Mas With or Without me estaca, mi colpisce, me faz parar para apreciar.

De algum modo, é uma música que me faz prestar atenção no momento que eu estou, e isso é muito zen. Eu páro o que estiver fazendo para ouvi-la. Naquele exato momento, de olhos fechado, eu interrompo a escrita da dissertação para ouvir cada nota, cada mudança de tom, cada palavra que o Bono diz. Elas me atingem e me fazem viver apenas naquele momento, como se mais nada existisse entre eu e a música.

E é por isso que eu gosto de música, porque elas têm o poder de te atingir e te colocar no momento presente (quando elas passaram da fase de trazer apenas reminiscências).

E eu faço parte do grupo de pessoas que acha que o ao vivo é bem melhor do que o reproduzido. Isso vale pra um Van Gogh, um Ansel Adams (que eu nunca vi ao vivo mas já me disseram que causa um efeito muito maior do que sua reprodução), vale para o Davi de Michelangelo, e vale para a música tocada ao vivo também. Ela te atinge muito mais do que quando toca no rádio. E é por isso que eu admiro que já viu o U2 ao vivo.



2 Comments:

At 9:47 PM, Anonymous Anônimo said...

Não gosto muito de U2, mas gostei muito da maneira que vc escreve aquilo que você pensa e sente.
Tem uma frase de uma música do R.E.M. que diz: "music is the light you cannot resist"
É verdade!
(P.S.: with or without até que é boazinha...hehe)

 
At 10:03 AM, Anonymous Anônimo said...

muito bom carolina,muito bem escrito bj

 

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